Nessa última semana estamos vivendo um reboliço nas mídias por causa da “travamento” do kit anti-homofobia. Quem me conhece sabe que eu sou super a favor do anti-sexismo, anti-homofobia, anti-racismo e por aí vai e mesmo se eu não fosse super a favor eu seria sensata o suficiente para não ser contra, ficaria quieta no meu canto.
Mas depois de altas reivindicações que recebi no email através de grupos feministas de discussão, de amigos gays e de colegas das ciências sociais eu resolvi dizer o que eu penso sobre o “travamento” do kit. Não estou defendendo o governo e acho mesmo que o “travamento” ocorreu por influência [Vide Pressão] da bancada cristãzinha [com todo respeito] no congresso. Ridículo!! Estado Laico, já!!!
No entanto, eu acho viável a não liberação do kit anti-homofobia nesse momento histórico que a educação brasileira se encontra.
Por que?
Tá louca?
WTF?
** Acalmem-se!!**
Só penso que esse material iria virar entulho nas escolas, não existe preparação suficiente dentro das escolas para se tratar desse assunto com a seriedade e o respeito necessários. Alunos nas escolas ainda são conformados, diariamente, de acordo com a heteronormatividade [são os padrões que dizem como se deve ser homem e como se deve ser mulher em uma determinada sociedade]. Meninos em idade de ensino infantil ainda não podem brincar com Barbie’s com a mesma tranqüilidade com que brincam com Max Steel’s. Meninos não podem ainda ganhar “cozinhas” de presente no natal. Na escola, na família e em vários espaços instituidores dos valores sociais, mantenedores da ordem social, ainda não se pode ser o homem e a mulher que se quer ser. Ainda não se consegue desvincular o ‘desejo sexual que terei’ da liberdade de utilizar os objetos de nossa realidade de maneira livre. Os determinismos ainda estão aí e NÃO estão em pauta na escola.
Jovens ainda não sabem lidar com sua sexualidade e, alguns, ainda não podem conversar com seus pais sobre o assunto [principalmente meninas]. Estão transferindo cada vez mais para os professores a função de educar as crianças, mas como fazer isso se estou sob o crivo do pai e da mãe da criança. Se a “coisa” ficar muito esquisita, toc toc toc, visita dos pais à escola.
- Que professora malvada é você!
Como um kit anti-homofobia pode entrar na escola se as crianças e os jovens ainda não sabem que têm autonomia para pensar por si só? Se ninguém explicou e debateu com eles o fato de que a existência deles diz respeito a eles e que a existência do outro diz respeito ao outro; e que pensar assim faz surgir o RESPEITO?
Como eu falo de anti-homofobia se a jovem menina ainda não sabe que beijar na boca não engravida? Como eu falo da sexualidade do outro se eu não sei da minha sexualidade? Acho que as pessoas se esquecem que ao falar de homofobia se fala sobre homossexualidade e que falando de homossexualidade se está falando de sexualidade. E cadê o kit sexualidade?
Eu, como professora que estou, não o recebi ainda.
Por isso, não acho ruim que o kit anti-homofobia fique por lá. Vamos falar de gênero e sexualidade primeiro, do meu gênero, da minha sexualidade. Depois eu falo sobre como lidar com a sexualidade do meu vizinho [absurdo é alguém se achar no direito de discutir a sexualidade do vizinho para saber lidar com ela].
Para mim bastava ensinar uma coisa: R-E-S-P-E-I-T-O!
Eu sei que vai ter milhões de pessoas que discordam de mim… Porém, eu acho lindo que as pessoas discordem.
See u!!